ETIOLOGIA E PATOGENIA
O botulismo é causado pela ingestão da toxina do Clostridium botulinum, que é um bacilo
anaeróbio, cujos esporos podem estar no solo, água ou trato digestivo de diferentes espécies. A forma vegetativa do C. botulinum se desenvolve em
ambientes de
anaerobiose,
como em cadáveres em decomposição; no fundo de águas paradas; ou em alimentos deteriorados.
As formas vegetativas produzem potentes
neurotoxinas que diferem antigenicamente entre si. Atualmente, são conhecidos 7
tipos de neurotoxinas: A, B, C, D, E, F e G (12,13). As toxinas são relativamente
resistentes aos agentes químicos, mas sensíveis ao calor e dessecação. São
rapidamente inativadas pela luz solar. As toxinas C e D causam o botulismo em
bovinos, ovinos, eqüinos e, esporadicamente, em outras espécies
Cerca de um grama de matéria orgânica decomposta contaminada pode
ter toxina suficiente para matar um bovino adulto. Quando os esporos de C. botulinum são ingeridos por um animal
normal, passam pelo tubo digestivo sem causar qualquer problema. Nos cadáveres
em decomposição os esporos encontram condições de anaerobiose e putrefação
adequadas para se desenvolver e produzir toxinas.
A doença ocorre quando os animais ingerem toxinas contidas na água
ou em alimentos. As toxinas são absorvidas e transportadas aos neurônios
sensíveis por via hematógena, atuam nas junções neuromusculares, provocando
paralisia funcional motora sem interferência com a função sensorial. Afetam,
principalmente, o sistema nervoso periférico, onde bloqueiam a liberação de
acetilcolina o que impede a passagem dos impulsos do nervo para o músculo. O resultado
é a paralisia flácida.
EPIDEMIOLOGIA
O
botulismo pode ocorrer pela ingestão de carcaças contaminadas e está associada
à carência de fósforo. Pode ocorrer, também, associado a alimentos contaminados
(cama de frango, água estagnada, silagens e rações).
No
Brasil, o botulismo, conhecido, também, como “doença da vaca caída”, tem determinado
grandes perdas econômicas, principalmente pelo número de animais que morrem
todos os anos.
Em
função da Carência de fósforo os animais desenvolvem o hábito de roer e ingerir
fragmentos de ossos e tecidos de animais mortos no campo, seja de outros
bovinos ou de animais silvestres. Sempre que isso ocorre, existe forte
possibilidade de que o animal esteja ingerindo a toxina botulínica pré-formada
no cadáver e os esporos. Nessa circunstância, o animal será vítima da toxina botulínica.
Como ingeriu, também, os esporos, quando esse animal morrer, servirá, também,
de fonte de contaminação, estabelecendo-se a cadeia epidemiológica da doença.
O
botulismo ocorre tanto em gado de corte como em gado de leite, causando maiores
perdas econômicas em gado de corte.
As categorias
mais acometidas são as vacas em gestação ou lactantes. Elas apresentam maior
exigência nutricional e, portanto, são as primeiras a manifestarem a
osteofagia, ficando predispo’stas à ingestão das toxinas botulínicas.
Existem
áreas onde o problema da carência de fósforo do solo e pastagens é bem
conhecido. Na maioria dos Estados ocorre no verão durante períodos chuvosos
quando há crescimento abundante das pastagens. Além da baixa disponibilidade de
fósforo no solo, ele é pouco móvel na planta em crescimento.
Com o
desenvolvimento da indústria aviária, tem aumentado o número de pecuaristas que
suplementam seus animais com cama de frango, que é barata e rica em nitrogênio
e minerais. Dessa forma, tem aumentado, também, o número de surtos de botulismo
associados à ingestão da toxina na cama de frangos contaminada com C. botulinum, que é um agente comum no trato
digestivo das aves. O risco de aparecimento de surtos aumenta se as camas
contiverem carcaças de frangos mortos.
A morbidade é variável e a
letalidade é, em geral, de 100%.
SINAIS CLÍNICOS
Os
sinais clínicos podem aparecer 1-17 dias após a ingestão do alimento contaminado.
Embora a maioria dos casos curse com quadro agudo, a evolução da enfermidade
pode ser superaguda (menos de 24 horas), aguda (1-2 dias), subaguda (3-7 dias),
ou crônica (7 dias a 1 mês). Na forma crônica os animais afetados têm maiores possibilidades
de sobrevivência. É provável que a dose de toxina ingerida determine a evolução
da doença.
O
botulismo caracteriza-se por paralisia flácida parcial ou completa dos músculos
da locomoção, mastigação e deglutição. Os animais apresentam diminuição, porém
nunca ausência completa, do tônus da musculatura dos membros, havendo paresia
flácida de dois ou dos quatro membros.
Os
sinais clínicos principais são dificuldade de locomoção, caracterizada por
andar cambaleante e duro, afetando principalmente os membros posteriores e
evoluindo para os anteriores, cabeça e pescoço. Ocorre bradicardia e a
respiração é dispneica.
Há
paralisia dos músculos da mastigação, que é indicada pela incapacidade de apreender,
mastigar e deglutir os alimentos. Nas fases mais adiantadas da doença, o animal
não consegue retrair a língua, principalmente quando a mesma for tracionada
para fora durante o exame clínico. O animal tende a ficar deitado em decúbito
esterno-abdominal com a cabeça apoiada no flanco ou no solo.
A
hipotonia ruminal é uma anormalidade consistente, podendo estar relacionado com
a falta de ingestão de alimentos e água. Desidratação é um achado comum.
PATOLOGIA
Não são observadas alterações
macroscópicas ou histológicas nos animais necropsiados.
DIAGNÓSTICO
O
diagnóstico da enfermidade baseia-se na sintomatologia, no histórico do caso e
na ausência de lesões macroscópicas significantes. Para confirmação do
diagnóstico clínico utilizam-se diferentes técnicas de acordo com a
disponibilidade do laboratório.
Uma
técnica de detecção da toxina botulínica é o de ensaio imunoenzimático (ELISA),
que pode ser utilizado como um
método de triagem rápido.
Recomenda-se
que sejam enviados pelo menos: 1) fragmentos de fígado (250g) resfriados ou
congelados; 2) soro sangüíneo resfriado ou congelado; 3) conteúdo ruminal 4) fragmento
de intestino delgado com o conteúdo intestinal; 5) metade de cérebro congelado;
e 6) a outra metade do cérebro e fragmentos das demais vísceras em formol a
10%.
O
diagnóstico diferencial do botulismo inclui outras doenças que afetam o sistema
nervoso, tais como listeriose, encefalite por herpesvírus bovino-5,
intoxicações por cloreto de sódio e por chumbo. A raiva em bovinos, cujos
sinais clínicos iniciais incluem a paralisia do trem posterior, deve ser
considerada como um diagnóstico diferencial importante.
CONTROLE E PROFILAXIA
Não
existe tratamento específico para o botulismo em bovinos, pois não existem
soros hiperimunes comerciais. Como alternativa, deve-se realizar o tratamento
de suporte do animal,
fornecendo água e alimento,
modificando sua posição e administrando laxativos (sulfato de magnésio) via
oral. Com isso busca-se evitar a formação de escaras de decúbito e eliminar
alguma porção da toxina ingerida e que ainda não tenha sido absorvida. Uma das
medidas mais importantes de controle e prevenção da doença é a suplementação do
rebanho com fósforo.
A
eliminação de carcaças do campo é uma medida auxiliar importante pois impede a
osteofagia e a possível ingestão de toxinas. A carcaça deve ser queimada
completamente e pode ser cortada em pedaços para facilitar a queima.
A
vacinação do rebanho é outra forma importante de controle e profilaxia nos
locais de criações extensivas onde haja alta incidência da doença. A vacina
utilizada deve ter eficácia comprovada. Os animais podem ser vacinados a partir
dos 4 meses de idade e revacinados dentro de 30-40 dias. Dependendo do tipo de
vacina utilizada e da incidência da doença na região, a revacinação pode ser
semestral ou anual.
A
vacina apresenta um período negativo de aproximadamente 18 dias, no qual alguns
animais ainda podem adoecer ou morrer. A vacinação prévia é recomendada,
também, para bovinos confinados ou semi-confinados que são alimentados com cama
de frangos.
REFERÊNCIAS
1. Carter G.R. 1988. Clostrídio. In: Carter G. R.,
Claus W., Rikihisa, Y. Fundamentos de Bacteriologia e Micologia Veterinária.
Roca, São Paulo, p. 127-135.
2. Dutra I.S. 1994. Botulismo em bovinos: um
importante problema de saúde animal. Bovinocultura dinâmica 1: 1-5.
3. Langenegger J., Döbereiner J., Tokarnia C.H.
1983. Botulismo epizoótico em bovinos no Brasil. Agroquímica, nº 20, p. 22-26