ETIOLOGIA E PATOGENIA
A
febre aftosa é uma enfermidade vesicular, infectocontagiosa, com grande poder
de difusão, causada por um vírus da família Picornaviridae,
gênero Aphtovirus, que afeta de forma natural animais biungulados. Existem 7 sorotipos
de vírus: O, A e C, que ocorrem na América do Sul; SAT1, SAT2 e SAT3, que
ocorrem no Continente Africano; e ASIA1, que ocorre no Oriente Médio. É uma das
mais temidas e prejudiciais enfermidades que afeta a pecuária, com reflexos
econômicos graves para a produção primária do país ou região, devido as sanções
comerciais de outros países em relação ao comércio internacional de produtos e
subprodutos de origem animal.
Como a
principal via de infecção é a respiratória considera-se que a mucosa do trato
respiratório superior é a principal envolvida na infecção natural. A partir daí
o vírus alcança a corrente sanguínea através dos alvéolos pulmonares, e atinge
a área alvo: camada germinativa do tecido epitelial. O período de maior produção de vírus ocorre nas primeiras 72 horas, juntamente
com o aparecimento das vesículas na mucosa da
boca, epitélio lingual, casco (espaço
interdigital e banda coronária) e úbere. Nesta fase os animais representam importantes fontes de infecção, pois o vírus
está presente em todas as secreções e
excreções.
Uma das características do vírus da febre aftosa é a de que este
pode manter-se de forma latente em animais que se recuperaram da infecção e,
até mesmo, em animais vacinados, os quais são chamados animais com infecção
persistente e/ou portadores. Este processo é exclusivamente relacionado à
resposta imune de base celular e humoral.
EPIDEMIOLOGIA
As espécies susceptíveis a aftosa são os ruminantes domésticos
(bovinos, búfalos, caprinos e ovinos); selvagens, e os suínos domésticos e
selvagens. Até a década de 70 os conceitos sobre a transmissão da febre aftosa
tinham como ponto principal que a mesma ocorria por contato direto entre animal
suscetível e animal enfermo ou por contato indireto com produtos de origem
animal ou materiais contaminados com o vírus. Atualmente, reconhece-se que a
principal forma de transmissão, em condições naturais, é por aerossóis, pela
via respiratória no caso de bovinos. As demais vias, como a genital e
conjuntival, embora ocorram, não possuem significado importante no mecanismo de
transmissão.
A febre aftosa possui distribuição mundial. No Brasil, diversos Estados não
registram focos de febre aftosa há mais de 20 anos. No estado de Minas Gerais o
ultimo relato aconteceu em maio de 1996. Em 1998 ocorreram no País 5 focos
ocasionados por vírus O e um foco ocasionado por vírus A.
SINAIS CLÍNICOS
Os
sinais clínicos de febre aftosa são aqueles compartilhados por todas as
enfermidades que compõem o “complexo das enfermidades vesiculares”: febre alta,
aparecimento de vesículas e aftas na mucosa da boca (língua e gengivas) e
vesículas e aftas nas patas (espaço interdigital e banda coronária). Em fêmeas
podem ocorrer vesículas e aftas na glândula mamária. Essas lesões conduzem ao
aparecimento de salivação intensa e manqueira, com emagrecimento e fraqueza do
animal. Em bezerros têm sido descrita miocardite que causa morte súbita ou
insuficiência cardíaca; no entanto, esta forma da enfermidade tem sido pouco
observada no Brasil.
Os
casos clínicos de febre aftosa em bovinos dificilmente levam a morte,
entretanto produzem perda das condições físicas do animal com rápida e
progressiva perda de peso, trazendo como consequência perdas econômicas
significativas, tanto em rebanhos de corte como de leite.
PATOLOGIA
Uma
vez que raramente ocorrem mortes em consequência de febre aftosa, alterações
macroscópicas, além das lesões de boca e pata, são raras e incluem vesículas e
úlceras nos pilares do rúmen e áreas de necrose nos músculos esqueléticos e no
miocárdio. Eventualmente, podem ocorrer infecções secundárias, com agravamento
das lesões. Microscopicamente, observa-se degeneração e necrose da camada
germinativa dos epitélios afetados. Na forma cardíaca observa-se miocardite com
infiltração de células mononucleares.
DIAGNÓSTICO
Neste
ponto é importante destacar que qualquer suspeita de febre aftosa deve ser
comunicada às autoridades sanitárias responsáveis pela campanha de erradicação
da doença. Devido a similaridade dos sinais clínicos com outras enfermidades
vesiculares e víricas, o diagnóstico clínico é sempre presuntivo. O diagnóstico
definitivo é feito através de testes sorológicos como ELISA e
vírusneutralização para identificação do tipo de vírus.
Para o
diagnóstico laboratorial de febre aftosa o material de eleição é sempre a
coleta das vesículas e/ou aftas no epitélio lingual, na gengiva, espaço
interdigital do casco e no úbere, remetidos ao laboratório sob refrigeração (tampão
fosfato com glicerina) ou, na falta deste, somente em gelo. Somente com este
tipo de material é possível isolar o vírus, normalmente em cultura de tecidos,
para estudos de subtipos e seu relacionamento com as amostras de vírus das
vacinas.
CONTROLE E PROFILAXIA
Em
todos os países da América do Sul os programas sanitários para controle e
erradicação da febre aftosa são baseados em:
a) vacinação em massa da população
bovina, com vacina de boa qualidade e com controle oficial. Em áreas endêmicas
as vacinas devem ser sempre polivalentes, isto é, com mais de um tipo de vírus.
No Brasil é obrigatório que, até os dois anos de
idade os bezerros sejam vacinados pelo menos 4 vezes
e, posteriormente, uma vez ao ano; os esquemas e épocas de vacinação variam em cada Estado;
b) rigoroso controle
de trânsito, tanto da população bovina quanto das demais espécies;
c) quarentena
compulsória para animais que ingressem de fora da área do programa;
d) em países, áreas
e/ou regiões livres de febre aftosa, além do controle de trânsito e de procedimentos
de quarentena, no caso de ocorrência de foco, se adotará o sacrifício
compulsório dos animais enfermos com posterior indenização;
e) após um período
mínimo de dois anos sem focos de febre aftosa e com a demonstração de ausência
de atividade viral mediante amostragens sorológicas, uma área pode ser
declarada livre da doença. A concessão de certificados de áreas livres pela
Oficina Internacional de Epizootias (OIE) está vinculada, também, a investimentos
nos sistemas de vigilância sanitária e de informação.
REFERÊNCIAS
1- CORREA, F.R. et.al.. Doenças em ruminantes e equinos, São
Paulo: Livraria Varela, 2001. VOL I, 426p.
2-
Centro Panamericano de Febre Aftosa. 2000. Informe epidemiológico sobre febre aftosa e estomatite vesicular.
Rio de Janeiro, RJ, 6 p.
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